Estadão
O vice-presidente Michel Temer (PMDB) 
conseguiu nos últimos dias algo raro na política brasileira: a união dos
 senadores tucanos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) e do governador de
 São Paulo, Geraldo Alckmin, em torno de uma estratégia comum que tem 
como objetivo a disputa pela Presidência.
Divididos desde o início da crise que 
ameaça o mandato da presidente Dilma Rousseff, em março deste ano, os 
três decidiram apoiar – e, em alguns casos, encorajar – Temer a 
trabalhar pelo impeachment da petista.
O vice-presidente Michel Temer é presidente nacional do PMDB.
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Até meses atrás, apenas Serra era um 
entusiasta da ideia de ver o peemedebista no Planalto. Aécio jogava para
 tirar Temer e Dilma de uma só tacada e disputar uma nova eleição. 
Alckmin queria manter a presidente no cargo até 2018, quando também 
termina o mandato dele no Palácio dos Bandeirantes.
Por conta das movimentações de seu vice,
 Dilma não esconde a preocupação com o afastamento cada vez maior dele e
 pediu aos articuladores políticos do governo que monitorem o PMDB com 
lupa. Nos bastidores, ministros avaliam que Temer flerta com o PSDB para
 assegurar sua ascensão ao poder e vai lavar as mãos em relação ao 
processo de impeachment.
O vice tem conversado há tempos com os 
tucanos, movimento visto no Planalto como “conspiração”. Com o mote da 
“pacificação nacional”, porém, Temer circula na oposição e é assíduo 
interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fato que 
intriga até mesmo petistas.
A possibilidade de debandada do PMDB 
começou a inquietar o governo na sexta-feira, quando o ministro da 
Aviação Civil, Eliseu Padilha (PMDB), aliado de Temer, pediu demissão. 
Desde então, o Planalto redobrou o cuidado na checagem do índice de 
fidelidade do principal partido da coligação, que ganhou sete 
ministérios há dois meses.
Adversário de Dilma, o presidente da 
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pressiona os ministros como Henrique 
Eduardo Alves (Turismo) e Celso Pansera (Ciência e Tecnologia) a 
entregar os cargos, mas eles resistem.
No Palácio dos Bandeirantes, auxiliares 
do governador de São Paulo dizem que, dependendo do pêndulo do PMDB e 
das vozes das ruas, o impeachment pode evoluir rapidamente. Temer vai se
 encontrar publicamente com Alckmin amanhã, na cerimônia de premiação do
 grupo de líderes empresariais Lide, presidido por João Doria Jr.
Havia também a expectativa de um 
encontro reservado entre Alckmin e Temer neste final de semana. A 
aproximação com adversários do governo está se estreitando. Na 
quarta-feira, por exemplo, horas antes de Cunha aceitar o pedido de 
impeachment, Temer, que é presidente do PMDB, foi anfitrião de um almoço
 com sete senadores de oposição, no Palácio do Jaburu.
À mesa foi discutido o afastamento de 
Dilma. Um senador observou ali que a presidente não poderia contar nem 
com Lula e muito menos com o presidente do PT, Rui Falcão, que orientou 
os três deputados do partido no Conselho de Ética a votar contra a 
anistia a Cunha. A decisão, com o aval de Lula, foi uma aposta para 
salvar o PT, desgastado com os escândalos.
Na prática, parte do PSDB aceita apoiar 
um eventual governo de transição comandado por Temer, caso Dilma caia, 
desde que o vice garanta não disputar a eleição de 2018. Tucanos dizem, 
porém, que mesmo assim não ocupariam cargos porque isso seria um “salto 
no escuro”.