“Ela nunca confiou em mim.”
 Foi essa a reação, em conversa com amigos neste domingo (6), do 
vice-presidente Michel Temer (PMDBSP) às declarações da presidente 
Dilma Rousseff de que espera “integral confiança” do peemedebista 
durante a tramitação do processo de impeachment contra ela.
Desde
 a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDBRJ), de aceitar o
 pedido de afastamento da petista, Temer evitou dar declarações públicas
 em defesa de Dilma, o que gerou reclamações do governo federal e até 
desentendimentos entre os dois lados.
Nesta segunda-feira, dia 7, 
Temer enviou uma carta a Dilma na qual apontou episódios que 
demonstrariam a “desconfiança” que o governo tem em relação a ele e ao 
PMDB.
A mensagem, segundo a assessoria da Vice-Presidência, foi 
enviada em “caráter pessoal” à chefe do Executivo e, nela, ele não “não 
propôs rompimento” com o governo ou entre partidos, mas defendeu a 
“reunificação do país”. (Com informações da Folha e do G1)
Leia abaixo a íntegra da carta obtida pela GloboNews:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
“Verba volant, scripta manent” (As palavras voam, os escritos permanecem)
Por
 isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes 
últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no 
Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde
 logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da 
minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade
 institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais 
são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela 
derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, 
sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno
 em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos
 para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta
 ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança. E 
só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à 
Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu 
governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e
 do respeito que granjeei no partido. Isso tudo não gerou confiança em 
mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1.
 Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. A 
Senhora sabe disso. Perdi todo protagonismo político que tivera no 
passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para 
resolver as votações do PMDB e as crises políticas.
2. 
Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas 
ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, 
subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última 
hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco 
fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele 
era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a 
registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No 
episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão 
de muitas “desfeitas”, culminando com o que o governo fez a ele, 
Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que
 ele, Ministro da área, indicara para a ANAC. Alardeou-se a) que fora 
retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta 
“conspiração”.
5. Quando a senhora fez um apelo para que 
eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava 
muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste
 fiscal. Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos 
empresários. Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o 
ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequência no governo. Os acordos
 assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 
reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a
 nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6.
 De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu 
ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem 
nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido. Os dois 
ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a
 menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, 
deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que 
sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, 
pelos 24 anos que passei no Parlamento. Aliás, a primeira medida 
provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 
(seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 
votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E
 não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos 
reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8.
 Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas 
com o Vice Presidente Joe Biden – com quem construí boa amizade – sem 
convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve
 que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil 
não se faz presente? Antes, no episódio da “espionagem” americana, 
quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o 
Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados 
Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança;
9.
 Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do 
país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o 
teor da conversa.
10. Até o programa “Uma Ponte para o 
Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser 
utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido 
como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o 
governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem 
sucesso. A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter 
cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a 
unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, 
tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar
 as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não
 tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã. Lamento, mas 
esta é a minha convicção.
Respeitosamente,
\ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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